Banzo: na margem da modernidade arcaica

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“BANZO” é a dor do exílio, a tristeza do homem escravizado, distante de sua terra, do viajante desgarrado perdido nos sertões do mundo inteiro. É a melancolia moderna que contamina, mas que move. Caminhos.

 

BANZO almeja o espaço público, para além da arte de vitrines, do espaço restrito, do privado que segrega; problematiza o papel dos espaços  expositivos, questiona sua função hierarquizante que mensura ($) a arte – régua pautada na mercantilização contemporânea da vida, em que quase nada escapa das classificações arbitrárias que ditam as narrativas cuja valorização é ou não permitida.

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Questão ao artista contemporâneo:

desmistificar os discursos e práticas padronizadas que limitam o espaço da perspectiva crítica, reduzindo-a somente à suposta crítica moderada ou abstrata que não interfere nas estruturas senhoriais – que não transcende o socialmente tolerável do ponto de vista da casa-grande.

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Arte domesticada:

pretensamente crítica, mas que acaba por reforçar contraditoriamente a ideologia liberal-meritocrática em sua falsa igualdade de oportunidades discursivas (especialmente oportunas àqueles mais iguais que os outros).

*Nota– Mérito: s.m.

i) qualidade superior daquele que herdou os benefícios dos crimes, canalhices, espertezas e espoliações, via de regra cometidos “legalmente” por seus pais e avós;

ii) valor moral e intelectual que é qualidade própria e intrínseca daquele que conquistou matrimônio patrimônio por sobre um polpudo herdeiro (vide: golpe do baú; bom casamento; Temer) 

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BANZO quer a fotografia que não se pauta pela restrição criativa da arte-de-mercado, das galerias reprodutoras de celebridades e de suas estruturas viciadas; a fotografia que trai a pretensão carreirista das figurinhas carimbadas; que denuncia o culto individualista pai-mecenas, a “pura arte” – o pseudo-virtuosismo gourmet que paira acima dos problemas abjetos do mundo. O desalento da barbárie move – obstáculo que anima.

BANZO recusa os limites da feira e suas regras que tolhem o artista; em busca de liberdade criativa, busca dar expressão ao que ainda é silêncio – desmistificar as intenções da fina-arte blasé que confortavelmente se ausenta da História.
Fotografia de práxis – corre por fora, come pelas bordas, cospe na falácia da arte pela arte e conspira contra o renome de butique.

[Coletivo Banzo, 2015/2017]

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BANZO do fim de feira

No início dos anos 1990, a sociedade brasileira voltava a fervilhar; as ruas do país voltavam a ter como seu legítimo protagonista o povo, após o baque sofrido pelos movimentos sociais, quando a patronal collorida de verde-e-amarelo, respaldada pela imprensa-empresa (porta-voz da ignorância nacional), arrebanharam patos suficientes para levar mais um pilantra ao poder – tradição aliás sempre renovada em nossa semi-nação.

Por esta época, três jovens fotógrafos de rua, oriundos de São Paulo, já percorriam os rincões do território brasileiro, mais tarde do mundo, registrando a diversidade cultural, manifestações sociais, paisagens cotidianas – cenas da realidade latente que exige ser ouvida. Davam assim início a seus trabalhos de escuta das contradições latentes – das quebradas sociais –, numa época em que insistentemente a chamada modernidade (por vezes disfarçada com inofensivos adornos pós-modernos) ainda se constitui de tanta barbárie potencialmente superável: modernidade arcaica.

A partir de encontros regulares, começados em 2013, firma-se a união desses artistas de diferentes matizes, cuja sintonia criativa e de pontos-de-vista os conectam em torno de um projeto comum: o registro dos sentimentos das margens, a busca dos limites a serem subvertidos.

O diverso e amplo acervo então reunido, é revisitado – mesclado e reconfigurado em tríades fotográficas –, em um projeto curatorial cujo propósito é tornar pública uma obra construída no meio público, recontextualizando imagens das margens de outrora, vergonhosamente atuais.

Atento ao subalterno – ao invisibilizado que teima em sobreviver e incomodar –, BANZO se caracteriza por sua fotografia de rua, por sua arte comum, oferecendo hoje duas intensas décadas de olhares e estradas à memória foto-histórica crítica do arcaico Brasil contemporâneo.

[Coletivo Banzo, 2015]

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 Curadoria da Exposição “TEMPO”

O presente conjunto intitulado “Tempo” – ora apresentado sob a forma de tríades fotográficas expostas em espaço público através de lambe-lambes – se constituiu a partir de três temas que se entrelaçam e complementam, segundo reflexão centrada no conceito da temporalidade: infância–o futuro presente (Marcelo Min); texturas do tempo (Paulo Cesar Lima); e solidão–tempo de silêncio (Yuri Martins Fontes).

No processo de curadoria colaborativa de “Tempo”, os membros de BANZO contaram com a participação do professor e crítico Rubens Zaccharias Junior, autor da Nota Curatorial (ao final do trabalho) — vide a página FOTOGRAFIA-DE-RUA.

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